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Morre o arquiteto Pedro Paulo Saraiva aos 83 anos

Pedro Paulo Saraiva
Pedro Paulo de Melo Saraiva. Foto: Archdaily

Faleceu na madrugada desta terça-feira, 16 de agosto , em São Paulo, o arquiteto Pedro Paulo de Melo Saraiva. Tinha 83 anos, atuou com inúmeros parceiros e deixa como legado uma obra extensa, diversificada, com especificações rigorosas  e digna de elogios, que inclui o Edifício Quinta Avenida  e o Salão de Festas do Clube Sírio, em São Paulo; a sede administrativa da Prodesp, em Taboão da Serra (SP);  os edifícios Portofino  e Portovelho, mais a sede do Clube XV, em Santos; e a Escola de Administração Fazendária (ESAF) e as sedes da CNI e do CONFEA, em Brasília.

Quem é ele?

Nascido em Florianópolis em 29 de junho de 1933, o arquiteto  Pedro Paulo de Melo Saraiva se formou no Mackenzie, em 1955, um ano depois de Paulo Mendes da Rocha. Em 1962, ambos entraram na FAU USP para trabalharem como assistentes de João Batista Vilanova Artigas. Atualmente dava aulas no Mackenzie e era considerado por Júlio Artigas, também arquiteto e filho de Vilanova Artigas, o melhor professor de Arquitetura em atividade no país.

Melo Saraiva foi presidente do IAB-SP na Gestão de 1970/1971, Diretor e Conselheiro Superior em diversão Gestões. Militante na profissão, era “um personagem influente e presente em tantos acontecimentos decisivos da arquitetura moderna brasileira”, nas palavras do arquiteto Luis Espallargas Gimenez, professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP-São Carlos, autor do livro “Pedro Paulo de Melo Saraiva, arquiteto “, lançado pela Romano Guerra Editora no mês de junho.

“Ele se formou no início dos anos 50, quando a Arquitetura Moderna vivia o seu melhor momento, na minha opinião. A Arquitetura, após os anos 70, deixou o Modernismo e começou a época do Brutalismo, o Pós-modernismo. Mas ele mantém as convicções, a sensibilidade da Arquitetura Moderna ao longo de toda a sua carreira, enquanto outros, até formados na mesma época, preferiram abraçar a Arquitetura do momento”, afirma Espallargas Gimenez.

Em entrevista para a edição de julho da revista “Brasileiros”, Pedro Paulo de Melo Saraiva afirmou que os entraves para o desenvolvimento da Arquitetura brasileira residem em seus principais clientes: o Estado e os empresários. “A nossa elite é muito ignorante. Antigamente as elites paulistanas tinham uma cultura europeia. Toda essa cultura pré-1922 era europeia. Veja os casos de Mario de Andrade, Oswald de Andrade. Hoje não tem mais isso. Há certa massificação e certa falta de consistência na produção das artes em geral no Brasil. E a arquitetura faz parte desse contexto”.

A legislação brasileira, de acordo com Melo Saraiva, não ajuda muito. “De uns tempos para cá, os arquitetos têm perdido prestígio e isso está ligado à forma de contratação. A Lei de Licitações prejudica porque é preciso levantar preços, fazer concursos e licitações. Só que a lei julga os projetos pelo preço. É um retrocesso.” Isso poderia ser evitado se os administradores públicos elaborassem bons cadernos técnicos para os projetos, com as especificações mínimas que teriam de respeitar.

Obras

Outros contemporâneos de faculdade com quem Pedro Paulo Melo Saraiva trabalhou, em projetos e concursos, e que igualmente se tornaram arquitetos de destaque, foram  José Maria Gandolfi, Luiz Forte Netto, João Eduardo de Gennaro, Jorge Wilheim, Fábio Penteado, Marc Rubin, Alberto Botti, Júlio Neves, Francisco Petracco e Alfredo Paesani, entre outros.

Na época em que eles se formaram, só existiam em São Paulo dois cursos de Arquitetura: o do Mackenzie e o da FAU USP. “Os professores do Mackenzie estavam mais preocupados com os processos construtivos, enquanto a FAU estava focada na questão social. Apesar disso, Artigas nos chamou, o Paulo um ano antes. Levantamos questões importantes sobre o papel do arquiteto e o desenvolvimento do País nos anos 1960. Demos a temática da pré-fabricação como um programa a ser defendido pelos alunos”, disse à “Brasileiros”

Nessa entrevista, o arquiteto ressaltou a importância dos espaços abertos na Arquitetura brasileira.  “Nossa arquitetura é sem grades, uma arquitetura do espaço aberto. O que se vê ultimamente é que, por causa do problema de segurança, os edifícios têm grades. E elas são cada vez mais complexas. Fazem até eclusas para o carro entrar. Sistemas usados em entradas de bancos servem para habitações. É uma loucura”. Ele lembrou, porém, que os novos tempos, com a preocupação crescente com a segurança pública, o modelo tem sido colocado em xeque. “Meu prédio na rua Pará, em Higienópolis, na capital paulista,  também foi feito com pilotis e sem grades, mas houve tanta pressão dos moradores que eu tive de fazer uma grade. Fiz uma elegante.”

Palácio Quinta Avenida (São Paulo, 1958): Um dos mais expressivos edifícios da Avenida Paulista teve seu projeto escolhido por meio de concurso público, um dos muitos dos quais Pedro Paulo participou ao longo de sua carreira. Foto: CAU/BR

Palácio Quinta Avenida (São Paulo, 1958): Um dos mais expressivos edifícios da Avenida Paulista teve seu projeto escolhido por meio de concurso público, um dos muitos dos quais Pedro Paulo participou ao longo de sua carreira. Foto: CAU/BR

Recém-formado em 1955, Saraiva forma equipe com Júlio Neves e participa do Concurso do Plano Piloto da Nova Capital, quando aproveita para visitar as obras do Palácio da Alvorada e do Hotel de Brasília, que iniciaram construção antes do concurso. Logo depois, ainda no final anos 1950, irá projetar, com Miguel Juliano, o Edifício Quinta Avenida – quando inicia profícua colaboração com o Engenheiro Roberto Zuccolo, calculista de muitas de suas obras –, e o Edifício CNI em Brasília, com Paulo Mendes da Rocha. Com este, ganha o concurso para a Assembleia Legislativa de Santa Catarina, em 1957, mas perde o concurso do Clube Paulistano em 1958, ficando em segundo lugar. Em 1962, com o Edifício Pedra Grande, Saraiva inicia parceria com o outro engenheiro de sua confiança, Mário Franco, responsável pelo conceito estrutural e para quem projetaria a casa da família.

Pedro Paulo de Melo Saraiva é autor de uma obra numerosa e importante, com destaque para a Sede Social do Clube XV (com Francisco Petracco, Santos, 1963), Salão de Festas do Esporte Clube Sírio (com Miguel Juliano e Sami Bussab, 1966), Palácio da Justiça do Estado de Santa Catarina (com Francisco Petracco e Sami Bussab, Florianópolis, 1966), Ponte Colombo Salles (Florianópolis, 1971), Escola de Administração Fazendária – ESAF (com Sergio Ficher, Brasília, 1973), Sede Administrativa da Prodesp (com Setsuo Kamada, 1975), Requalificação do Mercado Municipal (Pedro de Melo Saraiva e Fernando de Magalhães Mendonça, São Paulo, 2002), Edifício Sede do Confea – Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (com Pedro de Melo Saraiva e Fernando de Magalhães Mendonça, Brasília, 2007), além de uma série qualificada de edifícios em São Paulo, casos do Solar do Conde (com José Maria Gandolfi, 1962), Capitânia e Acal (com Sergio Ficher e Henrique Cambiaghi, 1973 e 1974), Albar e Tamar (com Maurício Tuck Schneider, 1963 e 1964) e Chateau de Ville (1985).

Nos anos 1960 projeto uma série de edifícios em Santos para o engenheiro e incorporador Rubens Paiva, com destaque para o Portofino (1961) e Portovelho (com Francisco Petracco, 1963). Nos últimos anos, projetou a requalificação do Mercado Municipal (2002)  e o ginásio de tênis do Esporte Clube Pinheiros (2012), em São Paulo. Atualmente desenvolvia uma série de projetos para Ilhabela, litoral de São Paulo.

Revitalização do Mercado Municipal (São Paulo, 2004): O projeto enfrentou o desafio de transformar o edifício histórico em centro gastronômico. Foi criada uma nova ala com 2.000 metros quadrados e um mezanino com vista para o interior do edifício, privilegiando os vitrais. A proposta incluiu projeto urbanístico e viário para melhorar a acessibilidade ao mercado. Foto: CAU/BR

Revitalização do Mercado Municipal (São Paulo, 2004): O projeto enfrentou o desafio de transformar o edifício histórico em centro gastronômico. Foi criada uma nova ala com 2.000 metros quadrados e um mezanino com vista para o interior do edifício, privilegiando os vitrais. A proposta incluiu projeto urbanístico e viário para melhorar a acessibilidade ao mercado. Foto: CAU/BR

Concursos

Participante ativo de concursos de arquitetura, com diversas obras realizadas através dessa modalidade, concorreu sem êxito nos concursos para o Centre Beaubourg (Paris, 1971), Pavilhão Brasileiro na Feira Expo’92 de (com Sidney Rodrigues, Sevilha, 1992) e Centro de Conferências de Libreville (com Pedro de Melo Saraiva, Fernando de Magalhães Mendonça, Gustavo Cedroni, Martin Corullon e César Shundi Iwamisu, Gabão, 2012).

Neste último, vencido por Work Architecture Company, ficou em 2olugar, à frente de arquitetos e escritórios renomados, diversos deles ganhadores do prêmio Pritzker: Jean Nouvel, Norman Foster, Frank Gehry, Herzog & De Meuron, Sou Fujimoto, Peter Zumthor, Diller Scorfidio + Renfo, Rem Koolhaas, Renzo Piano e Zaha Hadid.

Cargos Públicos

Entre o final da década de 60 e início dos 80, Melo Saraiva acumulou passagens importantes pelo poder público, trabalhando nos órgãos de planejamento da Universidade de Brasília, para o governo de Santa Catarina, na Empresa Municipal de Urbanização (Emurb) de São Paulo, e para o Banco Nacional de Habitação (BNH) em São Paulo e Mato Grosso.

Em Santa Catarina, ele se envolveu com o Plano de Desenvolvimento da Área Metropolitana de Florianópolis, elaborado pelo Escritório Catarinense de Planejamento Integrado (Esplan).

Livro

Com recursos obtidos via edital do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de São Paulo – CAU/SP, e autoria do arquiteto e professor Luis Espallargas Gimenez, o livro Pedro Paulo de Melo Saraiva, arquiteto foi lançado pela Romano Guerra Editora no mês de junho de 2016.

Produzido a partir de ampla pesquisa documental e iconográfica, além de entrevistas com o próprio Pedro Paulo. A partir de seus relatos, o livro aborda as seguintes questões: origem e formação, influências e principais edifícios residenciais, diversidade de programas e tipologias de projetos, questões técnico-construtivas, atuação em agências governamentais, além de sua vida acadêmica, como assistente de Vilanova Artigas, ao lado de Paulo Mendes da Rocha, na FAU USP, e como professor titular da FAU Mackenzie.

O livro conta também com destaques dos projetos de grande relevância social e qualidade arquitetônica e ensaios fotográficos de edifícios, de autoria do fotógrafo Nelson Kon, Joana França, Leonardo Finotti, Marcos Piffer, entre outros.

O velório de Saraiva acontece nesta terça-feira (16), a partir das 12h, no Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB/SP), Rua Bento Freitas 306, Vila Buarque, São Paulo. O corpo será cremado nesta quarta-feira, (17) as 07h no Crematório Vila Alpina, Av. Francisco Falconi, 437 – Jardim Avelino.

Fontes: Vitruvius, Revista Brasileiros, CAU/SP, IAB-SP, livro “Pedro Paulo de Melo Saraiva, arquiteto” e Site CAU/BR.

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