CAU/BR

Günter Weimer fala sobre arquitetura popular brasileira no 1º Seminário do CAU

“Ainda não descobrimos a África e sua arquitetura e a dos indígenas continua a ser desprezada por ser tida como inculta e selvagem”, disse o palestrante

 

Günter Weimer
Günter Behrendt Weimer, referência na temática da arquitetura popular.

 

A palestra de encerramento da primeira edição do 1º Seminário Nacional de Patrimônio foi conduzida pelo arquiteto e urbanista Günter Behrendt Weimer, um especialista na arquitetura vernacular com vasta experiência e trabalhos na área. Günter fez sua apresentação no intuito de chamar atenção para a urgência de se fazer uma defesa da arquitetura popular no Brasil, que segue a passos largos nessa área, se comparado aos países civilizados que contam com uma extensa leva de publicações a esse respeito.

Para Günter, a historiografia da arquitetura brasileira se caracteriza pelo conservadorismo de seus métodos. Pautada nas concepções positivistas, seu foco de estudos privilegiaram as realizações monumentais e, quando muito, as de significado histórico, sem que tenha havido uma clara definição deste conceito. Somente nos últimos tempos vem sendo percebido que há um progressivo interesse pelas realizações que ultrapassam as concepções elitistas.

“Havia um consenso de que existiam raças superiores e inferiores, razão pela qual fazia parte da constituição federal de que era obrigação de todas as instâncias da Nação – municipal, estadual e federal – de fomentar a eugenia, ou seja, a boa linhagem. Haviam controvérsias em torno da qualidade das diversas linhagens, mas não havia dúvidas de que estas pertenciam ao universo europeu. Isso acabava por excluir uma parte substancial da população brasileira, principalmente as camadas mais pobres”, afirmou o arquiteto e urbanista.

Diante desta concepção, afirmou Günter, temas relacionados com a temática da cultura popular não prosperaram e, no começo da década de 60, realizações arquitetônicas de caráter popular eram qualificadas como negação da arte. “Ainda que no campo específico da história estas limitações já tivessem sido superadas, a mesma perdurava entre os arquitetos”, disse.

Técnicas de aperfeiçoamento multimilenares poderiam solucionar problemas construtivos, acredita o palestrante.

Para Gunter, a percepção do descaso com que estavam sendo tratadas realizações populares da arquitetura nacional e sua formação pós-graduada em história, haviam o levado à convicção de sua importância. “Tentativas de levar seu ensino na academia causou inquietação entre o corpo descente e a indiferença por parte dos estudantes”, afirmou o palestrante.

O arquiteto traçou um caminho a partir de seus estudos, abordando tradições de países africanos, indígenas, dentre outras civilizações sendo reproduzidas em diversos locais do Brasil e que causam “arrepios às classes dirigentes que nem mesmo conseguem conceber que semelhante solução possa ser tida como ‘civilizada”. Técnicas de aperfeiçoamento multimilenares com estas bases, na opinião do arquiteto, poderiam solucionar problemas construtivos e seriam de grande utilidade.

“O fator mais decisivo nas formações urbanas é a estrutura tribal. As cidades são formadas por bairros isolados, sem uma comunicação adequada entre si, uma vez que cada “tribo” possui seus próprios costumes, leis e hábitos. São características que estão presentes na formação das cidades brasileiras. Os ‘insolúveis’ problemas causados pelos bairros periféricos são resultantes destas tradições em conflito com a visão europeia de mundo, que seguem negligenciadas pelas autoridades constituídas e planejadores e, por isso mesmo, continuam sem solução”, disse Günter Weimer.

Segundo o arquiteto, na literatura nacional, toda ênfase tem sido dada a uma pretensa origem europeia dos traçados urbanos coloniais. No entanto, isso somente aconteceu em casos esporádicos. “Os levantamentos por nós realizados mostram a absoluta preponderância dos aldeamentos indígenas como ponto de partida inicial”, afirmou.

O arquiteto também falou sobre as características específicas da arquitetura popular. “O trabalho manual era tido como aviltante, o que fez com que técnicas africanas se tornassem hegemônicas na feição popular da arquitetura. Esta constatação afronta a ideologia dos escravocratas que insistem em desqualificar os conhecimentos dos escravizados, apresentando-os como sendo de níveis culturais muito baixos”, observou.

Esta perspectiva ideológica, afirma o palestrante, faz com que haja pouca pesquisa de campo a respeito da produção popular. “Ainda nos atemoriza assumirmos nossas condições de povo mestiço e produtor de uma arquitetura popular miscigenada. Ainda não descobrimos a África e sua arquitetura e a dos indígenas continua a ser desprezada por ser tida como inculta e selvagem”, disse.

“Para adquirir um razoável conhecimento de nossa arquitetura popular há necessidade de tomar conhecimento das variadíssimas técnicas construtivas africanas e só poderemos entender as verdadeiras características de nossas favelas se tomarmos conhecimento das formações urbanas africanas”, finalizou o palestrante.

 

Conteúdo relacionado

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

OUTRAS NOTÍCIAS

CAU/BR

Fórum de Presidentes do CAU cumpre extensa pauta em Belo Horizonte

CAU/MG

Confira informações sobre registro de empresas no CAU

CAU/BR

Dia dos Povos Indígenas: CAU/BR celebra data com série de reportagens

Pular para o conteúdo